Nove pilares
psicológicos de um bom casamento
Por Ailton Amelio em http://ailtonamelio.blog.uol.com.br/
Recentemente, em 2012, a
prestigiosa Associação dos Psicólogos Americanos (American Psychological
Association - APA), em colaboração com Judith Wallerstein, apresentou um resumo
das nove tarefas psicológicas que contribuem para que um bom casamento (“Nine
psychological tasks for a good marriage”)1. Esse resumo foi baseado no
livro dessa autora: “The Good Marriage: How and Why Love Lasts” (Houghton
Mifflin, 1995).
Vou apresentar aqui essas nove tarefas psicológicas
e comentá-las brevemente. Embora eu não creia que a boa execução dessas tarefas
seja suficiente para garantir que um casamento seja feliz e dê certo, sem
dúvida, executá-las satisfatoriamente contribui para que isso aconteça.
Nove tarefas
psicológicas que contribuem para um bom casamento
Aqui estão as nove tarefas apresentadas por esta
autora e os meus comentários para cada uma delas
1- Separar –se emocionalmente da família
que lhe criou.
Isso deve acontecer não a ponto de estranhamento
dos parentes, mas o suficiente para que sua identidade seja separada das dos
seus pais e irmãos. Para se
tornar um adulto independente é necessário separar a sua identidade psicológica
da identidade dos pais e irmãos. O cônjuge de uma pessoa que não se tornou
suficientemente independente das suas família de origem sente que tem menos
influencia nos acontecimentos que dizem respeito ao casal do que os
parentes do seu cônjuge.
Claro que as ligações com as famílias de origem são
bem vindas e saudáveis! Trata-se apenas de obter o grau de independência
psicológica que possibilita a formação de uma nova unidade conjugal. O novo lar
deve ser a prioridade.
2- Construir a união baseada na intimidade
compartilhada e na identidade conjugal e, ao mesmo tempo, de tal modo que
ofereça proteção à autonomia de cada parceiro.
O compartilhamento da intimidade é a cola do
relacionamento. Para que um casamento se concretize no plano psicológico é
necessário que cada cônjuge comunique para o outro os seus sentimentos, ideias
e planos. É claro que existem limites para isso. Nem tudo pode e deve ser
revelado. Além disso, cada cônjuge deve ser honesto e pode e deve se posicionar
sobre o que o outro está revelando. A unidade conjugal estará funcionando bem
neste quesito quando há um bom grau de comunicação das intimidades mais
significativas e há uma aceitação substancial pelo outro cônjuge daquilo que
foi comunicado.
3- Estabelecer uma relação sexual rica e
prazerosa protegê-la contra a invasão do local de trabalho e obrigações
familiares.
Muitos casais reclamam que a vida sexual, que era
intensa e prazerosa no inicio do relacionamento, acabou se enfraquecendo e se
tornando rara devido ao cansaço e estresse produzidos pelo trabalho e pelos cuidados
com os filhos. A relação entre o casal foi cedendo espaço para as obrigações do
trabalho e para as ocupações com a família.
É natural que todo aquele tempo que o casal
reservava para si no início do relacionamento vá cedendo espaço para outros
afazeres à medida que o relacionamento amoroso vai se solidificando e outras
funções vão sendo incorporadas e desempenhadas. Embora possa haver exageros em
ambos os sentidos, o mais comum é que a vida do casal vá sendo cada vez mais
sacrificada pelas atividades profissionais e pelos cuidados com a casa e os
filhos.
4- Para os casais com filhos é necessário
saber assumir adequadamente os papéis assustadores da paternidade e absorver o
impacto da entrada de um bebê no casamento e, ao mesmo tempo, proteger
a privacidade do casal.
O nascimento de um filho é uma ocorrência que pode
virar de pernas para o ar muitos aspectos do relacionamento conjugal. A criança
toma uma boa parte do tempo do casal: hora das mamadas, troca de fraldas,
choros, idas ao pediatra. Ela é um ser totalmente dependente e cheio de
necessidades. Além disso, ficamos fascinados com o milagre da chegada daquele
ser maravilhoso. Muitos pais se apaixonam pelo rebento e ficam dispostos e
disponíveis a sacrificar qualquer coisa para acumulá-lo de cuidados. O tempo
disponível para as atividades do casal é imediatamente sacrificado: os
passeios, os jantares, as festas, as horas de conversar e namoro, aqueles
encontros sexuais demorados. Em parte, tudo isso é inevitável e é bom que seja
assim! No entanto, os exageros na dedicação aos filhos prejudicam a vida do
casal e, em decorrência, a dos próprios filhos.
5- Enfrentar e dominar as crises inevitáveis da
vida.
Todos os envolvidos em relacionamentos duradouros
enfrentarão diversas crises em algumas ocasiões: perda do emprego, prejuízos
econômicos, perda de parentes, doenças. O enfrentamento adequado dessas crises
depende de três fatores: (1) magnitude da tensão e da irritação que elas
produzem e que poderá provocar intolerâncias e brigas entre o casal, (2) qualidade
da estrutura psicológica dos cônjuges e do casamento que pode contribuir para a
superação ou agravamento das crises e (3) apoio psicológico do cônjuge para
ajudar aquele que está enfrentando os problemas. A qualidade e quantidade de
apoio que um cônjuge oferece para o outro que está enfrentando uma crise
contribui muito para fortalecer ou enfraquecer o relacionamento (“Na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença...”).
6 - Manter a força do vínculo conjugal em face da
adversidade. O casamento deve ser um porto seguro no qual os parceiros são
capazes de expressar suas diferenças, raiva e conflito.
Em todo o relacionamento amoroso duradouro é
natural que existam conflitos e diferenças crônicas. A expressão da raiva deve
ser admitida neste tipo de relacionamento. O que provoca danos é a maneira de
expressar a insatisfação e outros sentimentos negativos. John Gottman, famoso
pesquisador e escritor dessa área, identificou quatro maneiras de tratar
desacordos e irritações que podem provocar sérios danos ao relacionamento
(“Quatro cavaleiros do apocalipse”): (1) criticismo: apresentar uma
chuva de críticas. Isso só serve para agredir e não para identificar e
solucionar os problemas. (2) Desrespeito (atacar a
personalidade do parceiro: você é preguiçoso, não confiável, incapaz, burro).
(3) Defensividade: assim que o parceiro começa a apresentar uma
reclamação, o outro começa a pensar em como se defender ou contra-atacar o que
está sendo apresentado e, não, em considerar se a reclamação é procedente e
como atende-la e (4) indiferença: concluir que não vale a pena
ouvir seriamente o parceiro e se posicionar sobre aquilo que ele está dizendo.
(“Entrar por um ouvido e sair pelo outro”).
7- Usar o humor e o riso para manter as
coisas em perspectiva e para evitar o tédio e isolamento.
Existem evidencias de que o humor é uma forma
avançada e mais madura de proteger o eu. O humor também serve para abordar
assuntos tensos ou perigosos sob um ângulo menos ameaçador: é uma maneira de
diminuir a gravidade e tratar de assuntos que podem disparar agressividade
entre o casal.
8- Nutrir e confortar um ao outro, satisfazendo as
suas necessidades de dependência e ofertar encorajamento e apoio contínuo para
aquele que estiver precisando.
Uma atitude extremamente valiosa que é muito
nutritiva para qualquer tipo de relacionamento afetivo é a priorização da
satisfação do parceiro acima de considerações como racionalidade da decisão,
ganhos e perdas produzidos pela opção, opinião publica contraria ou favorável
ao que está sendo decidido.
Claro que aquilo que cada parceiro deseja pode e
deve ser discutido pelo outro. Mas, se o parceiro continuar mostrando que algo
é importante para ele, apesar de todas as considerações em contrário, esse
sentimento deve ser o critério mais importante para o outro parceiro decidir
apoiá-lo. Por exemplo, um dos parceiros quer fazer uma reforma da casa. O
outro quer aplicar o dinheiro. Ambos conversam sobre essa decisão e como o
casal não vai ficar em risco com o gasto com a reforma, aquele que queria fazer
a aplicação muito lucrativa concorda que melhor que o lucro é a satisfação que
o parceiro vai ter com a reforma.
Devemos partir do principio que apoiar aquilo que é
importante para o parceiro não vai produzir nenhum absurdo, porque ele é uma
pessoa razoável e dotada de bons sentimentos. Caso não seja possível pensar
assim a seu respeito, deve-se considerar, então, se o relacionamento com ele
vale a pena.
9- Manter vivas as primeiras imagens românticas
enquanto enfrenta as realidades sombrias das mudanças provocadas pelo tempo.
Um estudo mostrou que aqueles casais que têm boas
recordações sobre suas historias românticas são mais felizes do que os casais
que não conseguem ter boas recordações sobre os inícios de seus relacionamentos.
Aqueles casais que estão infelizes tendem a reformular suas historias ou a
relembrar mais dos fatos ruins. Terapeutas podem ajudar os casais a desenvolver
uma versão das suas vidas que seja positiva e bonita. Uma das maneiras de
iniciar esse trabalho é convidar cada cônjuge para elaborar a historia do seu
relacionamento sob um ângulo positivo, como se essa historia fosse o roteiro de
um filme romântico e bonito.
Nota
1-
http://www.apa.org/helpcenter/marriage.aspx (consultado em 02/03/2013)
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Por Ailton Amélio
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