PENSANDO O ABUSO SEXUAL
Por Carolina Freitas
“Nem mesmo o mais sexualizado e sedutor comportamento jamais
poderia tornar a criança responsável pela resposta adulta de abuso
sexual,
em que a pessoa que comete o abuso satisfaz seu próprio desejo sexual
em resposta à necessidade da
criança de cuidado emocional”.
(Tilman Furniss, 1993).
Nestas
últimas semanas muito tem se falado sobre Abuso Sexual em Goiânia. O Jornal
Anhanguera (TV Globo, Goiânia – GO) tem veiculado diversos casos sobre abusos
sofridos na infância e adolescência. E os jornais impressos e online seguem com
as seguintes manchetes: “Goiânia
e Aparecida já registram 300 casos de abuso sexual só este ano” (site G1), “Um
chapeiro e comerciante de 38 anos achou que ficaria impune pelo abuso sexual
praticado durante dez anos contra três enteadas. Com a mais velha delas teria
tido uma filha” (Jornal O Popular), “Advogado de 78 anos é preso em Goiânia por
suspeita de abuso sexual contra dois adolescentes” (UOL notícias) “Denúncias de
abuso sexual contra crianças aumentam em Goiânia” (http://www.aredacao.com.br).
Com
isso, muitas dúvidas surgem sobre o Abuso Sexual. O que é? Como identificar?
Como agir? Então, vou esclarecer um pouco sobre o tema – Abuso Sexual.
A
satisfação do desejo sexual de um adulto tendo a criança como instrumento,
qualquer tipo de aproximação sexual inadequada entre menores em diferentes
fases de desenvolvimento e coerção física e emocional definem o abuso.
A
violência se manifesta através do dano físico, do dano psíquico, do abandono,
da negligência e do abuso sexual à criança. Sendo o abuso sexual a forma mais
grave de maltrato infantil, por ser um dos traumas psíquicos mais intensos, com
consequências destrutivas da personalidade do abusado.
O
dano físico pode ser indicado através de lesões nas zonas genital e/ou anal,
sangramento pela vagina e/ou ânus, infecções do trato genital, gravidez,
acrescentado de hematomas e escoriações. Já o dano psicológico pode estar
relacionado à idade do início do abuso, a duração do abuso, o grau de violência
ou a ameaça de violência, a diferença de idade entre o abusador e o abusado, a
ausência de figuras parentais protetoras e o grau de segredo.
A
pessoa abusada pode apresentar os seguintes sintomas: altos níveis de
ansiedade, baixa autoestima, distúrbio do sono, distúrbio de alimentação, xixi
na cama, distúrbios de aprendizado, comportamento muito agressivo ou apático,
abatimento profundo, comportamento sexualmente explícito, masturbação visível e
contínua, brincadeiras sexuais agressivas, desconfiança em adultos,
especialmente os mais próximos, não participação de atividades escolares, ter
poucos amigos, relutância em voltar para casa, ideias de suicídio, fugas de
casa.
O
abandono e a negligência geram uma sensação de desamparo que pode fazer com que
a criança/adolescente busque afeto a qualquer custo, com qualquer pessoa,
conhecida ou desconhecida. Logo, a curiosidade sexual das crianças deve ser
satisfeita conforme sua manifestação, lembrando que a criança desinformada é
presa fácil de abuso sexual. As crianças abusadas são, geralmente, mais
imaturas emocionalmente.
O
abuso pode variar desde uma exposição dos órgãos sexuais, carícias, toques,
penetração digital, sexo oral, vaginal, anal, grupal, filmes,
fotografias. Ocorre em todas as camadas socioeconômicas, independente de
sexo ou idade, podendo acarretar em lesão física, trauma psicológico, silêncio,
vergonha e culpa.
O
impacto da vivência do abuso é singular para cada indivíduo. Vale
ressaltar que a falta de informação, o preconceito e a descrença no sistema
judiciário brasileiro podem interferir no número de denúncias. Porém, atualmente,
o número de denúncias vem aumentando, principalmente através do disque 100
(Disque Denúncia Nacional).
Atualmente
a sociedade e a mídia têm favorecido a sexualização infantil, através das danças,
músicas, roupas, programas infantis, acarretando em um comportamento sedutor
por parte das crianças. O adulto deve, então, ensinar à criança a discriminar
afeto de sexualidade, para a criança não ter apenas as carícias sexuais como
única expressão de afeto conhecida. Nunca é demais lembrar que ocorrendo abuso,
mesmo tendo havido um comportamento sedutor infantil, o adulto é o responsável
pelo abuso, pois é ele quem tem condições emocionais de não aceitar esta
sedução. O limite é dado pelo adulto!
“O sentimento de culpa da criança origina-se de seu senso equivocado de
responsabilidade, que ela deriva do fato de ter sido uma participante no abuso.
Essa confusão muitas vezes é reforçada pelas ameaças da pessoa que cometeu o
abuso, de que a criança será responsável pelas consequências se revelar o
abuso”. (Tilman Furniss, 1993).