sexta-feira, 30 de novembro de 2012

01 de Dezembro – Dia Mundial de Luta Contra a AIDS

01 de Dezembro – Dia Mundial de Luta Contra a AIDS




A Assembleia Mundial de Saúde, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), instituiu a data de 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. A ideia é sempre relembrar o combate à doença e despertar nas pessoas a consciência da necessidade da prevenção. E ainda, aumentar a compreensão sobre a síndrome e reforçar a tolerância e a compaixão às pessoas infectadas.

A cada ano diferentes temas são abordados. Neste ano de 2012 o slogan é “Não fique na dúvida, fique sabendo”, que, segundo o Ministério da Saúde, “enfatiza e incentiva o diagnóstico precoce do HIV, o sigilo e confidencialidade do teste, além do respeito aos direitos humanos”.

Notícias e Informações:

domingo, 25 de novembro de 2012

O peso das emoções



O peso das emoções
Não é a fome física que atormenta os comedores compulsivos. Em geral, lacunas emocionais desencadeiam o vício pela comida. E não adianta só a dieta. É preciso cuidar da mente

Desde a infância, o significado da comida vai além de sua função nutricional. Os alimentos fazem parte de reuniões sociais, das comemorações e são lembranças para toda a vida. A associação afetiva com a comida faz com que muitos busquem nela um refúgio nos momentos de tristeza, de ansiedade ou de raiva. Apesar de comum, porém, o comportamento pode tornar-se perigoso quando recorrente e, nos casos mais graves, pode levar ao desenvolvimento do chamado transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP).

A correlação entre comida e emoções é química. "Do ponto de vista neurológico, sabe-se, atualmente, que aqueles circuitos responsáveis pelo comportamento alimentar estão relacionados com aqueles que modulam, por exemplo, as emoções", explica Celso Alves, psiquiatra do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares (Proata), da Universidade Federal de São Paulo. A compulsão pela comida, no entanto, também é determinada por fatores genéticos, psicológicos e sociais. Baixa autoestima, dificuldade de impor limites, pouca flexibilidade, raciocínio extremista e impulsividade são traços comuns dos comedores sem controle.

Há uma forte sobreposição entre compulsão alimentar e transtornos de ansiedade e depressão. Alguns dados indicam que pelo menos a metade dos compulsivos são também depressivos, como explica Maria Angélica Nunes, psiquiatra do Grupo de Estudos e Assistência em Transtornos Alimentares (Geata). A associação de transtornos cria um ciclo vicioso e dificulta a cura. O compulsivo sente-se insatisfeito com o próprio corpo e busca uma compensação na comida, o que o faz sentir-se culpado. "A sensação de perda do controle alimentar pode desencadear um episódio depressivo, o qual, por sua vez, é um gatilho para novos episódios de compulsão alimentar", explica Celso Alves.

A doença se caracteriza basicamente pelo hábito de ingerir grandes quantidades de alimentos em um curto período de tempo. Durante esses episódios, as pessoas comem mais rápido do que o habitual e sentem vergonha e culpa no fim. "Alguns portadores de compulsão alimentar relatam que a sensação é a de que não são eles que fazem aquilo. É como se estivessem dissociados", afirma Celso Alves. Uma vez que o ataque começa, muitos só conseguem parar quando não há mais comida.

O sinal de alerta está na frequência com a qual se recorre a alimentos para lidar com frustrações e à intensidade dessa necessidade. "As compensações prazerosas, pela alimentação — ou por outros meios, como comprar, jogar, se exercitar ou fazer sexo —, podem até ser consideradas aceitáveis. Porém, a recorrência delas é que o torna o comportamento patológico", esclarece o psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo, coordenador do Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e Obesidade (Grecco), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo.

O vício pela comida se torna muitas vezes tão frequente que o indivíduo não é mais capaz de diferenciar quando sente fome ou apenas vontade de comer alguma coisa. Apesar de haver uma preferência por alimentos ricos em carboidratos, como pães e doces, muitos querem apenas livrar-se da ansiedade. "As pessoas com compulsão alimentar, com frequência, relatam não sentir fome, mas uma necessidade intensa de comer, de colocar algo na boca numa tentativa de atingir algum alívio emocional ou quando estão entediadas", afirma o psiquiatra Celso Alves.

A relação com a alimentação e o desenvolvimento de hábitos saudáveis começa na infância. As memórias infantis e os padrões estabelecidos nessa fase ecoam na maturidade. "Nossas escolhas alimentares enquanto adultos também são influenciadas pela memória afetiva que desenvolvemos quando crianças. Aprendemos a saborear e escolher os alimentos não só por motivos racionais", esclarece Alexandre Pinto Azevedo. No caso dos comedores compulsivos, a relação se torna ainda mais primitiva e no momento dos episódios de excesso alimentar, a memória afetiva-alimentar comanda as escolhas.

Hora de decidir e mudar

O servidor público Maurício Guedes, 34 anos, chegou a pesar quase 150kg. Além do incômodo com o excesso de peso, descobriu que tinha esteatose hepática, um acúmulo de gordura nas células do fígado, que pode levar à cirrose hepática.

Maurício cogitou se submeter à cirurgia bariátrica, mas descartou a possibilidade por acreditar que, mais do que transformar o corpo, era necessário cuidar da mente. Ele buscou muitas formas de alcançar ao peso ideal, mas a dificuldade em mudar os hábitos impedia a manutenção do resultado. "A pessoa emagrece e sente que deve ser recompensada. E qual a recompensa? Comer mais. É a ideia de que, agora, você pode comer o que você quiser porque já emagreceu. E volta tudo de novo", opina. Com o objetivo de mudar o estilo de vida e melhorar a saúde, ele começou o tratamento no Centro Terapêutico Dr. Máximo Ravenna (veja quadro). De junho a outubro, foram 35kg a menos e a meta é perder mais 15 até o fim da terapia. Para Maurício, o grupo terapêutico é essencial para fortalecer o compromisso com o tratamento. "Você vê as pessoas na mesma situação, entra em sintonia e se sente responsável pelo grupo", afirma.

Não foi fácil. Antes, os momentos de lazer contavam sempre com a presença da comida. Quando ia chamar os amigos para sair, a escolha era um bom restaurante. Hoje, ele busca o prazer em outras atividades, como leitura, teatro e shows. Se come fora, não sai da dieta. "Não tenho a mesma compulsão. Quando você começa uma reeducação alimentar, se sente muito bem com seu estado físico e começa a ter disposição para outras coisas."


Você é um comedor compulsivo?

O CCA desenvolveu uma série de perguntas para ajudar a descobrir se é momento de pedir ajuda. Membros do grupo responderam afirmativamente à maioria das questões. Não é um teste decisivo, é apenas um modo de orientar a identificação de comedores compulsivos.

01. Você come quando não está com fome?
02. Você faz "farras alimentares" continuamente, sem razão aparente?
03. Você sente culpa e remorso depois de comer compulsivamente?
04. Você gasta muito tempo comendo ou pensando em comida?
05. Você espera com prazer e antecipação pelo momento em que pode comer sozinho?
06. Você planeja com antecedência essas comilanças secretas?
07. Você come sensatamente em companhia de outras pessoas, compensando depois, quando está sozinho?
08. Seu peso está afetando seu modo de viver?
09. Você tentou fazer dieta por uma semana (ou mais), somente para abandoná-la perto de sua meta?
10. Você fica ressentido quando outras pessoas lhe dizem para "usar um pouco de força de vontade" para parar de comer demais?
11. Apesar das evidências em contrário, você continuou a afirmar que poderia fazer dieta "por si mesmo", quando quisesse?
12. Você anseia desesperadamente por comer em um determinado momento, dia ou noite, fora das horas das refeições?
13. Você come para fugir de aborrecimentos ou dificuldades?
14. Você já esteve em tratamento por obesidade ou problemas relacionados à alimentação?
15. Seu comportamento alimentar faz você ou outras pessoas infelizes?

Entenda o método Ravenna

Inicialmente, são cortados os carboidratos refinados da dieta. E, em pequenas medidas, são permitidos alimentos de baixo índice glicêmico, entre proteínas, frutas, verduras e laticínios. Para aliviar a vontade de comer doce, o paciente pode tomar refrigerante zero e comer gelatina, em quantidades permitidas pelo nutricionista.

Os carboidratos refinados, como o açúcar, causam a compulsão alimentar. Quanto mais são ingeridos, mais vontade de comer se tem. Eles disparam a secreção de insulina, que aumenta a sensação de fome.

Trata-se de uma dieta de baixas calorias, numa quantidade abaixo do que o corpo necessita por dia, o que leva o organismo a queimar a sua própria reserva de gordura. Isso possibilita um emagrecimento rápido, além de disparar uma mensagem de saciedade ao cérebro, o que torna a dieta menos sofrível.

As refeições são fracionadas. No almoço e jantar, por exemplo, primeiro é servido um caldo quente que tem a função de frear a ansiedade com que a pessoa chega à mesa. Depois, é servida uma salada verde e, a seguir, o prato principal, que inclui uma proteína e um acompanhamento. A sobremesa pode ser uma fruta ou uma gelatina, e um café.

Os grupos de apoio são mediados por terapeutas, entre psicólogos e psicanalistas. São momentos em que não se fala de comida e sim de vida. O mais importante é que o paciente se aproprie do conceito de limite e que ele deseje trocar a comida por uma nova e positiva expectativa diante da vida.

Exercícios físicos orientados são indicados durante o tratamento. Depois que se atinge o peso ideal, aos poucos, alimentos integrais e outros tipos de carboidratos vão sendo reinseridos ao cardápio.
Fonte: Centro Terapêutico Máximo Ravenna

Digerindo as frustrações

Segundo a psiquiatra Maria Angélica Nunes, o transtorno é uma "expressão do emocional no comportamento alimentar". Por isso, é necessário descobrir os fatores psicológicos que desencadeiam o quadro compulsivo. "A ideia é entender por que a pessoa reage assim e tentar mudar o pensamento automatizado", explica a médica. Nesse momento, é preciso que o paciente entenda o que é o transtorno, quais os gatilhos que levam a esse comportamento e como interromper o ciclo de desorganização alimentar.

Durante o tratamento terapêutico, são estabelecidos novos mecanismos para lidar com as frustrações. Nessa fase, é feita uma reconstrução da autoimagem, a partir da identificação das próprias qualidades, das emoções e de como lidar com elas. Junto à terapia, é necessário também orientação nutricional e, em alguns casos, o uso de medicamentos de controle do impulso alimentar.

O TCAP é uma doença crônica, o que significa que a pessoa pode manter-se bem por um tempo e eventualmente voltar a ter o comportamento compulsivo. Segundo Maria Angélica, cerca de metade dos pacientes, após o tratamento, ficam totalmente assintomáticos; cerca de 25% permanecem com resquícios e 25% não conseguem se curar.

Com o objetivo de ajudar as pessoas a abandonarem maus hábitos alimentares, surgiu o Comedores Compulsivos Anônimos (CCA). A organização começou em 1960, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O programa é inspirado nos Alcoólicos Anônimos e segue o mesmo programa de 12 passos, só que com adaptações. O objetivo não é buscar as causas que desencadeiam o comportamento compulsivo, mas compartilhar experiências e alcançar a abstinência do comer compulsivo. Apesar de não ser uma instituição religiosa, a recuperação é centrada nos pilares espiritual, emocional e físico. "A compulsão pela comida é como qualquer outra. É como a pessoa que bebe exageradamente e que usa drogas. A comida descontrolada para nós é como uma droga", afirma Laís (nome fictício), membro do grupo. Para ela, as reuniões são importantes para que o comedor compulsivo não se sinta sozinho, já que normalmente ele se isola para comer em excesso.

Fernanda (nome fictício), também membro do CCA, afirma que familiares e amigos não conseguem entender que a sua relação com a comida é diferente da de uma pessoa normal. Ela conta que é comum o estranhamento quando fala de sua compulsão. Ela sofre com transtornos alimentares há mais de 15 anos. "Admiti para mim, há muito tempo, que tenho problema com a comida."

Ela tentou acompanhamento com psicólogos, mas não deu certo. Há seis meses, procurou o CCA. A jovem tem bulimia e alterna períodos de alimentação saudável com episódios de excesso alimentar. Esteve acima do peso desde a pré-adolescência, e desde essa época sofre com o efeito sanfona. "Minha vida é um inferno em relação à comida", confessa. Em festas, já passou por situações em que tentou provocar vômito e, depois, se sentiu frustrada e envergonhada. Quando a vontade bate, a preferência é por alimentos ricos em carboidratos, como pães e doces. Depois dos ataques, vem o arrependimento e a culpa. "Me sinto um lixo", confessa.

É comum que comedores compulsivos prefiram alimentos específicos, especialmente doces e carboidratos em geral. Por isso, durante a reunião, evita-se falar de comidas, para não desencadear compulsão em outros membros. Muitas vezes, um simples comentário pode atiçar o desejo. "Fantasiava muito. Ficava horas deitada na cama pensando em como seria comer, sentindo o gosto da comida", conta Lia (nome fictício), em tratamento, há 15 anos, no CCA.

A relação conturbada da moça com a comida começou cedo. "Aos 5 anos já era obesa. Acho que já nasci compulsiva", conta. Seus pais também eram obesos e ela repetia o comportamento que via dentro de casa. Oferecer comida era um gesto de carinho da mãe. Muitas vezes, quando estava triste, ganhava algum alimento com a justificativa de que ele a faria sentir-se melhor. Nas primeiras reuniões no CCA, ela respondeu afirmativamente a 12 da 15 perguntas que caracterizam o diagnóstico de comedor compulsivo, mas não se convenceu por completo. "Fiquei muito tempo negando a doença", conta.

Sentimentos como raiva, ressentimento e medo motivam os ataques de Lia. "Eu nem vejo. Já comi coisas em uma noite, em um momento de compulsão, que eu acho que deveria ter comido em um mês. Isso me marcou muito", confessa. Hoje, a estratégia é evitar a primeira mordida. Muitas vezes, amigas cozinham pratos e ligam para convidá-la, mas ela evita. No início da compulsão, não conseguia ficar longe dos doces. Depois do diagnóstico de diabetes, cortou o açúcar da dieta e, após anos de tratamento, afirma que nem se lembra mais do gosto das guloseimas preferidas, como doce de leite, doces com ovos e goiabada.

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista/2012/11/18/interna_revista_correio,334176/o-peso-das-emocoes.shtml

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Informativo 22 nov 2012





Para psicólogos, transexualismo não é doença

Carolina de Andrade
Colaboração para a FOLHA

A visão do transexualismo como doença é controversa. Uma ação mundial tenta retirá-lo dos manuais de doenças da OMS e da Associação Americana de Psiquiatria.

A campanha "Stop Trans Patologization" ["Parem de patologizar os trans"] tem o apoio, aqui, do Conselho Federal de Psicologia. Segundo a psicóloga Ana Ferri de Barros, que coordena a comissão de sexualidade e gênero do conselho paulista, o acesso à cirurgia de mudança de sexo pelo SUS não deveria depender do diagnóstico.

"Defendemos a despatologização das identidades 'trans' e também o acesso universal à saúde", diz.
É também a posição da cientista social Berenice Bento, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. "Não há exame que ateste a transexualidade [termo usado por quem é contra a patologização]."

Para Bento, gênero é construção social e o diagnóstico do transtorno na infância, absurdo: "Quem precisa de tratamento são os pais".

Já na visão do psicanalista Roberto Graña, o transtorno deve ser tratado como uma perturbação no desenvolvimento. Ele considera o transexualismo uma recusa em aceitar o real, o sexo biológico e, portanto, uma doença. Diz ainda que tratamentos hormonais são inúteis e perigosos na juventude.

A psicanalista e colunista da Folha Anna Veronica Mautner afirma ser "muito difícil" estabelecer limites entre as origens do distúrbio, hormonais, comportamentais ou de outra ordem. "Cada caso é um caso."


Transtorno de identidade sexual na 
infância divide especialistas

Carolina de Andrade
Colaboração para a FOLHA

Aos quatro anos, um menininho inglês que se chamava Jack disse para a mãe: "Deus cometeu um erro, eu deveria ser uma menina".

Aos oito, ele mandou um e-mail para as pessoas da escola onde estudava (e sofria bullying) avisando ser "uma menina presa em um corpo de menino". E passou a se vestir como garota. Aos dez, disse à mãe que se mataria se começasse a "virar homem".

Aos 11, Jack teve uma overdose e fez outras seis tentativas de suicídio antes de completar 16 anos.

Como a lei inglesa não permite cirurgia de mudança de sexo antes dos 18, Jack foi operado na Tailândia, aos 16.

A história de Jack, que a rede de TV britânica BBC exibe hoje, mostra os contornos e as dores do transtorno de identidade sexual na infância. Jackie Green tem agora 19 anos, é modelo e foi a primeira finalista transexual do concurso de Miss Inglaterra.

A OMS define o fenômeno como o desejo, manifesto antes da puberdade, de ser (ou de insistir que é) do outro sexo. O termo "transexualismo" só é usado para adultos.

Não há estatísticas de incidência do fenômeno. Entre pessoas acima de 15 anos, estima-se que um a cada 625 mil seja transexual, segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh (leia entrevista abaixo).

De acordo com Carmita Abdo, do programa de estudos em sexualidade da USP, a experiência clínica mostra que só um terço das crianças com o transtorno serão transexuais.

Na visão da psiquiatria, transexualidade não é escolha, como querem alguns setores. Como psiquiatra, é claro que Alexandre Saadeh defende o diagnóstico de transtorno de identidade sexual na infância --embora critique seu uso estigmatizante.

Professor da PUC-SP e coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo, ele conta como a medicina caracteriza o problema, à luz das últimas pesquisas.

*
Folha - Como saber se a criança sofre de transtorno de identidade de gênero?
Alexandre Saadeh - Pode ser que a criança esteja só brincando de assumir um papel, o que é comum entre os quatro e os seis anos, faz parte do desenvolvimento. Para constatar o transtorno é preciso que o comportamento ocorra por tempo prolongado.
Quais são os indícios?
Não é só o uso de roupas ou a criança se chamar por nome do outro gênero. Ela apresenta outros sinais: fica deprimida, irritada e agressiva se é obrigada a se comportar segundo o sexo anatômico. A necessidade de ser tratada como se fosse do outro gênero é constante. Muitas percebem que o comportamento incomoda os pais, aí o escondem. Os primeiros indícios surgem na infância, mas são raros os casos em que é claro desde o início se tratar de transexualismo.
Nem toda criança com o transtorno fará cirurgia de mudança de sexo quando adulta. Mas todo transexual teve o transtorno. A criança deve ser avaliada por profissionais para evitar diagnósticos equivocados.
Quais são as causas?
Há evidências de que a diferenciação cerebral intrauterina pode ser influenciada por níveis de andrógenos [hormônios que desenvolvem as características sexuais masculinas] circulantes na gestação, o que pode gerar um cérebro masculino ou feminino, independentemente da anatomia já definida. Apesar da importância do ambiente e da cultura, não há evidências de como esses fatores se acrescentam aos fenômenos biológicos.
Quais são as alternativas após o diagnóstico da criança?
Pais e profissionais devem ajudar a criança a vivenciar o transtorno e, se for o caso, superá-lo; se não, a vivenciá-lo de maneira integral, sem censura. Não é fácil para nenhum pai ou mãe se adaptar a essa transformação, mas quando se pensa em respeito e aceitação pela diferença e por quem é de verdade o filho ou filha, fica mais palatável.
No Brasil, a cirurgia só pode ser feita após os 21 anos, mas o uso dos hormônios pode começar a partir dos 18. Se tivermos certeza de que o adolescente já é um transexual, é possível tentar autorização junto ao Conselho Federal de Medicina para começar o tratamento hormonal antes.
Os efeitos do tratamento hormonal para impedir a puberdade são reversíveis?
Há a possibilidade de se bloquear o desenvolvimento das características masculinas ou femininas do adolescente, ou já fazer o tratamento hormonal específico para o gênero desejado. Alguns efeitos são reversíveis, outros não, por isso a controvérsia e a responsabilidade da indicação desse tipo de intervenção, o que aumenta mais a importância do diagnóstico.
Sou a favor do bloqueio e do tratamento hormonal, já que impedem que a pessoa passe pelo sofrimento de desenvolver caracteres sexuais de seu sexo anatômico e não de sua identidade de gênero.
A visão do transexualismo como transtorno é unânime?
Para os [profissionais] que se preocupam em se atualizar nas pesquisas, é, sim. O problema é confundir transexualismo e homossexualidade ou tratar como doença mental. É um transtorno do desenvolvimento cerebral. As explicações psicológicas clássicas não conseguem mais caracterizar o fenômeno. As ciências humanas tendem a ser contra o diagnóstico e o consideram estigmatizante, do que discordo. Pode haver esse uso do diagnóstico, mas não é essa a finalidade.
Qual sua opinião sobre os movimentos pela "despatologização" do transexualismo?
Acredito no diagnóstico como delineador, não como estigmatizante. Como psiquiatra, não posso achar que o transexualismo seja questão de escolha. É questão de desenvolvimento embrionário, relacionada ao desenvolvimento cerebral na fase de diferenciação entre cérebro masculino e feminino.
Como vê o "gender-neutral parenting", essas tentativas de criar uma educação sem estereótipos sexuais, a exemplo de uma escola na Suécia que não usa "ele" ou "ela" para se referir às crianças?
A sociedade funciona com diferenciação de gêneros. A criança terá contato com os gêneros cedo ou tarde e isso pode gerar confusão.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1187730-transtorno-de-identidade-sexual-na-infancia-divide-especialistas.shtml