Sexo, Remédio Contra o Estresse.
Por Flávio Gikovate
Uma das maiores
preocupações das pessoas sobrecarregadas de tensões e responsabilidades
é encontrar meios de atenuar os malefícios causados à saúde pelo estilo de vida
excessivamente acelerado. É claro que o ideal seria viver de maneira menos
insana.
Mas, diante das dificuldades de romper individualmente com esse modo de
vida adotado por toda a sociedade, só nos resta buscar paliativos para nossas
dores cotidianas: massagem, esportes, meditação, lazer, caminhada, hobbies.
Entre as inúmeras
atividades que funcionam como válvula de descompressão, a de efeitos mais
instantâneos é a relação sexual de boa qualidade.
Assim como as
massagens relaxantes e os exercícios de meditação, o sexo traz leveza para o
corpo e a mente. O envolvimento com as carícias eróticas nos transporta a
um mundo etéreo. Esquecemo-nos das mazelas cotidianas, das dificuldades
financeiras, dos problemas de saúde e dos dilemas que afligem o país.
Não é fácil fazer
essa transição do caos para o desligamento total. No entanto, quanto maior a entrega
e a concentração no estímulo às zonas erógenas, mais rapidamente entramos no
clima de excitação. Por isso, vale a pena se esforçar nessa conquista, mesmo
quando não nos sentimos espontaneamente predispostos ao sexo.
No início da
relação sexual, só temos olhos para o parceiro e para nós mesmos. Empenhamo-nos
em saciar mutuamente os desejos, em preencher expectativas, em dar e
obter prazer. Estamos focados no que está acontecendo conosco, no ambiente que
nos cerca e no desenrolar do sexo – o resto do mundo já deixou de ser problema
nosso.
A partir do ponto
em que nos aproximamos do orgasmo, nada mais nos interessa. Nosso pensamento
para, exatamente como acontece numa meditação bem-sucedida, e nos entregamos
incondicionalmente ao pulsar da nossa sexualidade.
Trata-se de um momento
mágico, de total mergulho em nós mesmos e na urgência da nossa excitação.
Nessa hora – insisto em afirmar – não existe comunhão. Usufruímos da mais
absoluta e deliciosa solidão! O parceiro está no mesmo estado, voltado
para si, para o seu silêncio interior.
O clímax sexual é
seguido de um período de exaustão física e talvez psíquica – que leva alguns
homens a cochilar. Depois vêm o relaxamento e a sensação de leveza, que
protegem nossa mente dos conflitos diários. Quando retornam, conseguimos
encará-los com olhos mais críticos e generosos. Sob a ótica do prazer, a vida
ganha simplicidade e as coisas prazerosas, outro significado.
Mas só alcança
esse relaxamento benéfico quem não usa o sexo para manipular ou dominar
o parceiro, nem o instrumentaliza para exercitar seus ressentimentos.
As pessoas
empenhadas apenas em impressionar na cama acabam transformando o ato em mais um
fator de estresse. Tudo o que deveria ser lúdico torna-se pesado,
premeditado pelas metas a serem atingidas.
A experiência nos
ensina que pouca gente é capaz de tirar do sexo prazer e estímulo para a vaidade
saudável – a que nos impulsiona a cuidar do corpo para manter nosso fôlego
em forma e nossa aparência atraente.
Não me refiro ao
consumismo desvairado, às cirurgias estéticas desnecessárias, às dietas
compulsivas, ao apego doentio aos exercícios e a outros excessos cometidos na
busca da perfeição. Falo do encontro consigo mesmo, do autoconhecimento.
Essa seria a
verdadeira emancipação sexual, aquela que liberta as pessoas do sexo de
segundas intenções e as preenche com sentimentos genuínos e
transparentes, fundamentais para levar a vida com a leveza e a sabedoria das
crianças.
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