Meu artigo publicado ontem (22.06.2013) em O Popular: "Proposta de
Lei Homofóbica".
Carolina Freitas*
Carolina Freitas*
O projeto de lei que autoriza a prática de
tratamento psicológico para a cura da homossexualidade é uma forma de
homofobia. A homofobia pode ser definida como ódio, aversão ou discriminação
com violência física e/ou verbal. Porém, pode ser também no silêncio
constrangedor ou por injúrias, gestos e ironia no convívio social.
A formação acadêmica e a prática clínica mostram
que não faz qualquer sentido um tratamento psicológico para curar a
homossexualidade. Nunca, em 15 anos de prática profissional como psicóloga e
dez anos como sexóloga, tive um único pedido de um homossexual para ser mudado
seu desejo sexual.
Os sentimentos desenvolvidos a partir de fatores
ambientais, cognitivos e biológicos formam o conjunto das expressões naturais
da pessoa sexuada, levando em consideração seus desejos e fantasias. Esse
desejo sexual pode se apresentar heterossexual (desejo por indivíduo do sexo
oposto), homossexual (desejo por indivíduo do mesmo sexo) ou bissexual (desejo
por indivíduos do mesmo sexo e do sexo oposto).
A busca do homossexual pela terapia, além das
dificuldades comuns a qualquer ser humano, é, justamente, a resistência de
aceitação social, o que dificulta a autoaceitação. Pois, qualquer definição do
desejo é sofrida. A adolescência está aí para escancarar as dúvidas e
incertezas e a beleza do desenvolvimento humano.
Ratifico que uma das maiores dificuldades do
homossexual é a rejeição social. O alto índice de suicídio entre pessoas
homossexuais decorre dessa rejeição. O que vem contribuindo para a redução do
preconceito social é o fato de a homossexualidade deixar de ser vista como
doença. Os Conselhos Federais de Medicina e Psicologia não podem mais catalogar
a homossexualidade como doença, não tendo, assim, como haver tratamento
terapêutico. É terminantemente vedada, por resoluções dos mencionados
conselhos, a promessa de “cura”.
Respondo à pergunta do deputado João Campos
(PSDB-GO), autor do projeto de lei apelidado de “cura gay”: por que os
heterossexuais podem se tratar sexualmente e os homossexuais não? Não é
verdade. A terapia da sexualidade atende a todas as pessoas, sem distinção de
opção sexual. A sexualidade está além do sexo, envolve também afetividade,
cumplicidade e relacionamentos. A terapia sexual visa ao bem-estar sexual. O
processo terapêutico deve contribuir para uma maior satisfação do homem, da
mulher, do casal. É um processo em que a pessoa, ou o casal, encontra auxílio
para obter satisfação e crescimento individual e no envolvimento relacional.
O projeto foi aprovado pela Comissão de Direitos
Humanos, mas ainda há um longo caminho até a sanção ou não pela presidente da
República. Espero que prevaleça o bom senso até lá, pois, respeitar as
diversidades sexuais é questão de saúde pública e de direitos humanos.
* Carolina Freitas é
mestre em psicologia e sexóloga
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