domingo, 11 de novembro de 2012

Não é dor de cabeça. É de barriga.




Não é dor de cabeça. É de barriga

Um novo estudo revela o verdadeiro motivo do “hoje não, querido”. Problemas intestinais afetam a vida sexual de 57% das mulheres entrevistada

por Nathalia Ziemkiewicz e Gustavo Campoy (Ilustrações)

A dor de cabeça – desculpa universal das mulheres para dispensar o parceiro, virar para o lado e dormir – pode ser um eufemismo para outro tipo de desconforto, tão constrangedor que elas preferem nem nomeá-lo. E ainda abrem mão do prazer por ele. Um levantamento inédito sobre a saúde feminina revela que distúrbios intestinais, como a prisão de ventre, afetam a vida sexual de 57% das entrevistadas. Muitas dizem perder o apetite sexual (22%). 

Algumas deixam de ter relações sexuais (17%). Os dados são de um estudo com 3.500 mulheres, realizado em dez cidades pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) com a Danone Research, centro de pesquisa da empresa multinacional de produtos lácteos.

Os desconfortos causados pela prisão de ventre – dores, cansaço, inchaço – estendem a preguiça do intestino à libido. Elas ficam irritadas, sentem-se feias e ainda temem que algum efeito colateral do problema se manifeste justamente na hora H. “Tenho medo sim”, diz a dentista Renata Vasconcelos, de 31 anos. Ela diz que chega a “esquecer” o banheiro por uma semana. Nesses dias, sexo é impraticável. O receio de Renata é o mesmo de 24% das mulheres entrevistadas durante o estudo. A dona de casa Severina Ferreira, de 50 anos, também prefere fugir das investidas do marido. “Fico tão inchada e deprimida que fazer sexo nem passa pela minha cabeça”, diz. Ela avisa o marido de que está “naqueles dias”, e ele logo entende o recado: não se trata de tensão pré-menstrual. São poucas as mulheres que falam sobre o problema com os parceiros. A paisagista Kátia Teixeira, de 45 anos, prefere as desculpas convencionais, como dor de cabeça. “Por maior que seja a intimidade, acho que falar sobre o assunto quebra o encanto.”

O tabu só contribui para piorar o problema, a que as mulheres estão naturalmente mais propensas. Descargas de um dos hormônios femininos, a progesterona, diminuem os movimentos intestinais. Como o intestino é uma das áreas com mais enervações do corpo, é muito suscetível à ação de outros hormônios. “O tubo digestivo acaba sendo um catalisador das tensões. Elas podem se manifestar na forma de doenças”, diz o gastroenterologista José Galvão, presidente da FBG.

Como as mulheres têm vergonha de falar de assuntos intestinais, minimizam a importância do desconforto e não procuram ajuda. “A mulher está ligada à ideia de pureza, e a evacuação contrasta com essa imagem estereotipada”, afirma a psicóloga Pâmela Magalhães, especialista em clínica hospitalar. “No inconsciente feminino, ela deixará de ser desejada se fizer ‘essas coisas sujas’.” A vergonha explica por que 20% das entrevistadas afirmaram esperar que o problema passe sozinho, sem buscar orientação médica. “A mulher trata o intestino na terceira pessoa, como se não fizesse parte dela”, diz o bioquímico de alimentos Guilherme Rodrigues, pesquisador da Danone Research.

Seguindo a lógica da inibição, muitas mulheres adotam um comportamento que agrava a prisão de ventre: ignoram os chamados da natureza. “Elas costumam repelir a vontade de ir ao banheiro se estão no trabalho porque têm vergonha dos colegas”, diz Rodrigues. Se estão na rua, fazem o mesmo porque têm asco aos banheiros públicos. Quando estão viajando, a quebra na rotina e a companhia de outras pessoas são o suficiente para afastá-las do banheiro. À medida que elas desprezam os estímulos do intestino, eles vão se apagando. 

Quando finalmente se sentem confortáveis – sem ninguém por perto, em seu banheiro de estimação –, é o intestino que não quer trabalhar. A memória do organismo registrou que ele deve segurar os estímulos. O bloqueio cultural se transforma numa doença crônica.
Os impactos dessa retenção indesejada vão além da vida sexual. Pioram a qualidade do sono e afetam a produtividade no trabalho (leia o quadro abaixo). Mulheres que dizem com muita frequência “hoje não, querido” devem prestar atenção em seu intestino. A cabeça pode estar ok. 




* Amostra: 3.500 mulheres, entre 18 e 60 anos, em dez
cidades brasileiras. (Fontes: Federação Brasileira de
Gastroentereologia e Danone Research ) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário