segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Notícias – Aids



Notícias – Aids




Pela primeira vez, novos casos de aids têm queda, afirma ONU
Novas infecções diminuíram 33% entre 2001 e 2012; ação de combate global se inspirou no Brasil

Jamil Chade - Correspondente - O Estado de S. Paulo

A Organização das Nações Unidas (ONU) anuncia hoje que, pela primeira vez, o registro de casos de aids no mundo teve uma queda. Em um desempenho considerado histórico, o número de novas infecções pelo HIV caiu 33% em pouco mais de uma década. Em 2001, 3,4 milhões de pessoas foram contaminadas pelo vírus e, no ano passado, a taxa caiu para 2,3 milhões. Em pelo menos 26 países, o recuo foi superior a 50%.

Dados do informe da Unaids - agência da ONU de combate à doença - revelam também que houve redução de 30% na mortalidade em 2012, em relação ao pico, em 2005, quando houve 2,08 milhões de mortes. Em 2001, 1,9 milhão de pessoas morreram em decorrência da aids e, em 2012, foram 1,6 milhão.

Apesar da freada na proliferação do vírus, o número de pessoas infectadas no mundo continuou a subir no período - a sobrevida aumentou com o acesso ao tratamento. Em 2001, 30 milhões de pessoas no mundo viviam com o HIV - em 2012, eram 35,2 milhões. Desde o início da epidemia, nos anos 1980, 75 milhões de pessoas já foram infectadas.

Um dos dados mais comemorados dentro da Unaids é a queda de novos casos de crianças infectadas. Entre 2001 e 2012, a redução foi de 52%, com um total de 250 mil registros.

Funcionários da ONU não escondem que os números são surpreendentes - há apenas alguns anos, poucos imaginariam que a redução seria possível. A mudança aconteceu em grande parte por causa da decisão da agência de adotar o modelo brasileiro de garantir acesso ao coquetel antirretroviral como uma estratégia mundial. O tratamento ajudou também a barrar a contaminação por HIV.

Em 2005, 1,3 milhão de pessoas tinham acesso aos remédios no mundo. No fim do ano passado, o número chegou a 9,7 milhões. "Mas, apesar dos ganhos históricos em expandir os serviços de tratamento, o esforço para garantir um acesso universal enfrenta desafios consideráveis", alerta a Unaids.

Parte do sucesso obtido se deve ao crescimento do volume de recursos destinados para o combate à aids. Em 2002, existiam US$ 3,8 bilhões para atacar a doença. Hoje, são quase US$ 19 bilhões. Para 2015, a Unaids estima que serão necessários até US$ 24 bilhões.

O Brasil aparece como o País com o maior orçamento nacional para o combate à doença entre os emergentes. Por ano, são mais de US$ 745 milhões - a China, com uma população seis vezes maior, investe US$ 497 milhões, contra US$ 200 milhões na Tailândia e US$ 262 milhões em Botsuana. A Unaids, porém, alerta que o País, mesmo com todo o dinheiro para combater a doença, corre o risco de não atingir algumas das metas mundiais até 2015.

Perigo. Apesar dos avanços, a Unaids reconhece também que o mundo corre o risco de não atingir essas metas. A maioria dos países está longe de reduzir à metade o número de novos casos entre pessoas que injetam drogas ou das transmissões por relação sexual, conforme estabelecido nas metas de 2011.

A África continua o grande desafio. Das 35 milhões de pessoas com aids, 25 milhões estão no continente. Dos novos infectados por ano, 1,6 milhão são africanos. Quase todas as mortes também ocorreram lá: 1,2 milhão das vítimas mundiais.

Brasil tem queda de 38,9% na mortalidade

População infectada pelo HIV, no entanto, teve alta de 23,3% no período; especialistas veem com cautela dados da ONU

Fabio Leite - O Estado de S. Paulo

De mortes causadas em decorrência da aids no Brasil caiu 38,9% entre 2001 e 2012, aponta relatório da Unaids - agência da ONU de combate à doença. Ainda assim, no mesmo período, a população brasileira infectada pelo HIV saltou de um número mínimo de 430 mil pessoas para 530 mil, alta de 23,3%. A estimativa máxima do órgão é de crescimento de 540 mil para 660 mil contaminados, expansão de 22%.

Para infectologistas ouvidos pelo Estado, os dados indicam que o Brasil pode comemorar que os portadores do HIV têm vivido mais tempo por causa do maior acesso aos medicamentos - em 2012, foram no mínimo 11 mil mortes, ante 18 mil em 2001. Na estimativa máxima, a queda foi de 27 mil mortes, em 2001, para 19 mil em 2012 - a queda seria de 29,6%. O País, porém, ainda falha muito nas ações de prevenção, dizem os especialistas.

"Os portadores do HIV hoje vivem mais e melhor, é fato. Graças ao acesso aos medicamentos e ao diagnóstico precoce, que reduzem o porcentual de mortalidade. Mas isso não significa que esteja perfeito. Precisamos fazer muito mais", afirmou Juvêncio Furtado, diretor do Departamento de Infectologia do Hospital Heliópolis e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O relatório da Unaids deixa claro, por exemplo, que o governo brasileiro precisa fazer novos esforços para conseguir avançar com o tratamento, ainda que o País seja o modelo que inspirou toda a resposta internacional da última década.

Hoje, 307 mil adultos recebem gratuitamente o tratamento contra a aids, uma taxa que representa entre 81% e 93% de todos os pacientes no Brasil que precisam de ajuda. O número de pessoas precisando de assistência, no entanto, pode chegar a 370 mil em 2015. A agência da ONU recomenda que o Brasil concentre seus esforços em garantir acesso pleno ao tratamento até lá.

Ponderação. Para o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Mario Scheffer, os dados da ONU relativos ao Brasil devem ser ponderados. "A gente tem trabalhado com uma estabilização da mortalidade, mas num patamar muito elevado, na casa dos 12 mil", afirmou ele, citando dados do governo.

"Desperdiçamos a oportunidade de evitar mais mortes. O problema é que estamos lidando com a epidemia em grupos que hoje não são alcançados pelas políticas públicas tradicionais de prevenção e tratamento, como profissionais do sexo e usuários de droga", disse Scheffer. Em junho, o governo vetou campanha cujo lema era "sou feliz sendo prostituta", voltada ao combate da aids.

Tuberculose. Outra meta que o Brasil corre o risco de não cumprir é a de reduzir em 50% o número de mortes por tuberculose de pessoas com aids. Entre 2004 e 2012, o Brasil conseguiu uma redução de menos de 25% nas vítimas fatais por tuberculose, o que coloca o País ao lado de Sudão, Togo e Serra Leoa.

*colaborou Jamil Chade




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