Não é dor de cabeça. É de barriga
Um novo estudo
revela o verdadeiro motivo do “hoje não, querido”. Problemas intestinais afetam
a vida sexual de 57% das mulheres entrevistada
por Nathalia Ziemkiewicz e Gustavo Campoy (Ilustrações)
A dor de cabeça – desculpa universal das mulheres
para dispensar o parceiro, virar para o lado e dormir – pode ser um eufemismo
para outro tipo de desconforto, tão constrangedor que elas preferem nem
nomeá-lo. E ainda abrem mão do prazer por ele. Um levantamento inédito sobre a
saúde feminina revela que distúrbios intestinais, como a prisão de ventre,
afetam a vida sexual de 57% das entrevistadas. Muitas dizem perder o apetite
sexual (22%).
Algumas deixam de ter relações sexuais (17%). Os dados são de um
estudo com 3.500 mulheres, realizado em dez cidades pela Federação Brasileira
de Gastroenterologia (FBG) com a Danone Research, centro de pesquisa da empresa
multinacional de produtos lácteos.
Os desconfortos causados pela prisão de ventre –
dores, cansaço, inchaço – estendem a preguiça do intestino à libido. Elas ficam
irritadas, sentem-se feias e ainda temem que algum efeito colateral do problema
se manifeste justamente na hora H. “Tenho medo sim”, diz a dentista Renata
Vasconcelos, de 31 anos. Ela diz que chega a “esquecer” o banheiro por uma
semana. Nesses dias, sexo é impraticável. O receio de Renata é o mesmo de 24%
das mulheres entrevistadas durante o estudo. A dona de casa Severina Ferreira,
de 50 anos, também prefere fugir das investidas do marido. “Fico tão inchada e
deprimida que fazer sexo nem passa pela minha cabeça”, diz. Ela avisa o marido
de que está “naqueles dias”, e ele logo entende o recado: não se trata de
tensão pré-menstrual. São poucas as mulheres que falam sobre o problema com os
parceiros. A paisagista Kátia Teixeira, de 45 anos, prefere as desculpas
convencionais, como dor de cabeça. “Por maior que seja a intimidade, acho que
falar sobre o assunto quebra o encanto.”
O tabu só contribui para piorar o problema, a que
as mulheres estão naturalmente mais propensas. Descargas de um dos hormônios
femininos, a progesterona, diminuem os movimentos intestinais. Como o intestino
é uma das áreas com mais enervações do corpo, é muito suscetível à ação de
outros hormônios. “O tubo digestivo acaba sendo um catalisador das tensões.
Elas podem se manifestar na forma de doenças”, diz o gastroenterologista José
Galvão, presidente da FBG.
Como as mulheres têm vergonha de falar de assuntos
intestinais, minimizam a importância do desconforto e não procuram ajuda. “A
mulher está ligada à ideia de pureza, e a evacuação contrasta com essa imagem
estereotipada”, afirma a psicóloga Pâmela Magalhães, especialista em clínica
hospitalar. “No inconsciente feminino, ela deixará de ser desejada se fizer
‘essas coisas sujas’.” A vergonha explica por que 20% das entrevistadas
afirmaram esperar que o problema passe sozinho, sem buscar orientação médica.
“A mulher trata o intestino na terceira pessoa, como se não fizesse parte
dela”, diz o bioquímico de alimentos Guilherme Rodrigues, pesquisador da Danone
Research.
Seguindo a lógica da inibição, muitas mulheres
adotam um comportamento que agrava a prisão de ventre: ignoram os chamados da
natureza. “Elas costumam repelir a vontade de ir ao banheiro se estão no
trabalho porque têm vergonha dos colegas”, diz Rodrigues. Se estão na rua,
fazem o mesmo porque têm asco aos banheiros públicos. Quando estão viajando, a
quebra na rotina e a companhia de outras pessoas são o suficiente para
afastá-las do banheiro. À medida que elas desprezam os estímulos do intestino,
eles vão se apagando.
Quando finalmente se sentem confortáveis – sem ninguém
por perto, em seu banheiro de estimação –, é o intestino que não quer
trabalhar. A memória do organismo registrou que ele deve segurar os estímulos.
O bloqueio cultural se transforma numa doença crônica.
Os impactos dessa retenção indesejada vão além da
vida sexual. Pioram a qualidade do sono e afetam a produtividade no trabalho
(leia o quadro abaixo). Mulheres que dizem com muita frequência “hoje não,
querido” devem prestar atenção em seu intestino. A cabeça pode estar ok.
* Amostra: 3.500 mulheres, entre 18 e 60 anos, em
dez
cidades brasileiras. (Fontes: Federação Brasileira de
Gastroentereologia e Danone Research )
cidades brasileiras. (Fontes: Federação Brasileira de
Gastroentereologia e Danone Research )
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