Terapia de casal e
sexual. Diferenças e benefícios
Diário da Manhã
Breno Rosostolato
Discussões no relacionamento,
crise dos sete anos ou de todos eles, ciúmes, infidelidade falta de diálogo e
uma mesmice no casamento são algumas queixas comuns na clínica de psicologia,
que surgem naturalmente entre os casais e fazem parte do complexo e intrincado
universo da vida à dois. Em algumas situações a solidão e o isolamento
sustentam uma angustiante sensação de infelicidade.
Ainda alvo de muita
resistência, este tipo de intervenção psicológica é constantemente associada ao
fracasso, pois o casal não admite que não consiga resolver seus próprios
problemas e com isso sente-se constrangido em relação aos amigos e à família. O
conflito vivido pelo casal é subjugado, acreditando-se que divergências vão se
resolver naturalmente, o que não acontece. Além disso, a terapia de casal é
considerada como um atendimento que separa o casal, o que é irreal. Este tipo
de terapia propicia uma reconstrução no relacionamento, criando um espaço de
diálogo e a aproximação entre duas pessoas que muitas vezes não se encontram e
não conversam nem quando dividem a mesma cama.
O terapeuta pode ajudar a
reafirmar o vínculo no relacionamento, clarificar os aspectos que incomodam e
em alguns casos a separação é entendida como uma escolha plausível. Mas a
própria terapia pode facilitar uma separação harmoniosa e tranquila, em que o
término da relação não precisa ser de brigas e desavenças. Terapia de casal não
é salvação para se evitar o divórcio e tampouco separar o casal. Ela fortalece
as escolhas, permissões e o encontro entre duas pessoas que possuem uma
história juntos.
O grande benefício da terapia
de casal e esclarecer aos parceiros que o relacionamento não deve aniquilar a
singularidade do outro e nem sucumbir as individualidades, afinal, é importante
que as pessoas tenham autonomia e que não vivam atrelados às regras equivocadas
do amor romântico, aquele que impõem aos amantes que vivam como uma única
pessoa, que não existe felicidade sem a presença do outro e que a existência
amorosa está condicionada a este relacionamento. O amor deve ser livre, sem
impedimentos, exigências, imposições e idealizações. O amor primeiro é aquele
que acontece em você. É a valorização de si. O amor que cria dependência não é
satisfatório e causa muito sofrimento para quem o experimenta desta maneira.
Não existem modelos a serem seguidos, mas de fato, existem aqueles que devem
ser exorcizados, a começar pelos papéis e funções definidas entre homens e
mulheres e que segregam a relação. A verdadeira união dos amantes acontece
quando os propósitos são construídos juntos e que os interesses pessoais não
sucumbam o do outro.
As queixas mais comuns são
infidelidade – inclusive a virtual – brigas e discussões, discordâncias sobre a
educação dos filhos, dificuldade financeira, problemas de relacionamento com a
família, falta de respeito e de desejo sexual. Existem casos em que o casal se
relaciona bem sexualmente, mas apenas desta forma. A vida social é penosa e
triste. A falta de perspectivas e de crescimento na relação torna o vínculo
sexual simplório e o único elo de satisfação. O afeto não se mantém e o
conflito é iminente. É primordial o casal não deixar muito tempo passar para
buscar ajuda e orientação. O sofrimento deteriora emocionalmente as pessoas e
postergar a dor só causa mais angústia.
Muitas vezes terapia de casal
é confundida com terapia sexual pelo fato de trabalhar conflitos no casal e o
envolvimento sexual entre eles. Este tipo de terapia possui como objetivo
propiciar uma discussão e a compreensão do desejo, entender sobre as próprias
vontades e permitir-se ao prazer. A sexualidade é alvo de muitas repressões.
Com isso o desejo, o prazer e o corpo sofrem as consequências de limitações e
conceitos opressores que impedem as pessoas de serem felizes e viverem plenamente
suas potencialidades sexuais.
Seja a de casal ou sexual os
benefícios são prósperos e satisfatórios para quem procura estas terapias.
Muitos mitos são rompidos e resignificados. Entre eles o mito do amor eterno,
que não existe. O amor deve ser cuidado e cultivado entre o casal, mas a crença
de que o sentimento será o mesmo do começo da relação é ilusão. Passado o
arrefecimento da paixão e o furor do sexo a realidade deve sustentar esta
relação, o prazer e a felicidade devem vigorar, mas saber lidar com o
abrandamento do prazer é importante para que as pessoas não vivam sempre com a
inebriante sensação do começo da relação ou frustrados porque algo está
diferente. O convívio faz com que a relação se torne real e não apenas
fantasioso. Deve-se conquistar todos os dias o amor do outro e não se acomodar.
O mito de possessão também é desmistificado porque ninguém é objeto de ninguém,
logo, não devemos viver uma relação amorosa com pretensões de que o outro nos
pertence, fazer o que quiser com ele ou achar que a relação será eterna.
Respeitar e procurar conversar sempre que houver dificuldades vão dando a
tônica da relação e alicerçando o casal. O estigma da perfeição é outro mito
que devemos combater porque ninguém é perfeito e nenhuma relação está isenta de
tropeços e quedas.
(Breno Rosostolato, psicólogo;
professor na Faculdade Santa Marcelina)
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