Meu artigo
publicado ontem (02.09.2013) em A Redação:
“Conflitos da Maternidade”.
“Conflitos da Maternidade”.
Conflitos da
maternidade
Crianças têm sido jogadas na lixeira
Carolina Freitas*
Fetos encontrados em lixeiras têm sido recorrentes
em Goiânia nas últimas semanas. Atitudes como essas frequentemente me levam a
refletir sobre a saúde psicológica das mulheres. A psicologia não tem a
resposta correta para tais situações, mas pode contribuir para a reflexão dos
atuais dilemas da maternidade: será que toda mulher tem de ser mãe e perfeita?
Como que num retrocesso, atualmente, a “boa mãe”
tem de sentir dor no parto normal sem anestesia. Seria o primeiro de muitos
sacrifícios da maternidade. Tem de ter leite em abundância para amamentar por
pelo menos seis meses. Nada de mamadeiras. Tem de ser ecologicamente correta e
não usar fralda descartável. Nunca perder a paciência nem sentir-se indisposta.
Ah, e estar magra e linda, sempre!
Penso se não estamos indo de encontro às conquistas
anteriores, retirando o poder de escolha das mulheres, já que não existe um
único modelo de ser mulher. Existem mulheres! E, evidentemente, a maternidade
varia de acordo com os valores e crenças de cada uma, não há um modelo único de
mãe a ser seguido.
A mãe que teve o parto normal não é mais mãe que a
mãe que fez cesariana. A mãe que dá a mamadeira não é menos mãe que aquela que
amamenta. Mães que trabalham fora ou não são menos mães, simplesmente mães.
Cada mulher tem o direito de exercer a maternidade
à sua maneira. Até mesmo decidir não exercê-la. Já que ser mãe não é uma
extensão natural do ser mulher. A vivência da maternidade não deve ser uma
imposição, pois gera mulheres frustradas e culpadas frente à tamanha pressão e
até disfunções psicológicas. Ser ou não mãe deve ser uma escolha. Pois, na
iminência de ficarem reféns de tantas exigências sociais, muitas simplesmente
desistem da maternidade.
Por isso a importância do planejamento familiar. O
advento da pílula anticoncepcional favoreceu a mulher na programação de ser ou
não mãe. No caso de uma gestação não planejada, a mulher pode optar por ceder o
filho para adoção.
É sabido ainda que a saúde psíquica da mulher sofre
alterações durante a gestação. Se esse profundo sentimento de culpa for
alimentado, pode gerar sentimentos de ambivalência materna intoleráveis. Essa
relação de amor e ódio não administrada pode causar o abandono de fetos e
crianças.
Será, então, que mulheres estão desistindo de serem
mães devido a tamanhas exigências sociais e psicológicas? É uma resistência ao
modelo tradicional de maternidade que está de volta? Vale a reflexão, já que a
idealização da maternidade pode contribuir tanto para conflitos psicológicos
quanto para o abandono de crianças em lixeiras.
*Carolina Freitas é psicóloga, mestre em psicologia, sexóloga e especialista em Educação Sexual.
*Carolina Freitas é psicóloga, mestre em psicologia, sexóloga e especialista em Educação Sexual.
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